Criança, mas com vida de adulto

Até que ponto uma agenda cheia de compromissos e responsabilidades pode afetar o desenvolvimento saudável?


Quando se trata da educação dos filhos, muitos pais acabam colocando os filhos em vários cursos no intuito de dar uma boa educação. Mas é importante saber até que ponto essas atitudes podem ser ou não benéficas para as crianças. Vanessa Palazzo, escrivã e mãe de Wesley Severino, de quatro anos de idade, relatam que o filho faz aula de música, inglês, escolinha, e só não está na natação porque a professora está de licença. Ela ressalta que com a rotina o filho aprende a se socializar e a conhecer seus limites nas aulas de música. “Wesley é uma criança muito agitada, não fica parado. Achei que a quantidade de atividades poderia deixá-lo mais tranqüilo e melhorar o sono. A vida não é fácil. Ele tem que se adaptar com os desafios”, disse.
 
A escrivã emenda ainda que antes o filho era muito interessado em desenho animado e gostava de imitar os personagens da televisão.

Os cursos, segundo ela, ajudaram a tirar o garoto da frente do aparelho. Karina Sampaio, advogada e mãe de Isabella, conta que a agenda da menina é de dar inveja a muitos adultos. A pequena de sete anos faz aula de balé, violão, computação, natação, música, pintura e postura. Sampaio acredita que isso vai trazer benefícios para a filha. Já pensando no futuro, a advogada, que pretende um dia se mudar para o exterior, também colocou a menina nas aulas de inglês e espanhol. “Dizem que minha filha é muito inteligente, esperta, e futuramente vamos nos mudar do Brasil, então tem que começar a se adaptar. Isto facilitará a entrada no mercado de trabalho”, argumenta.

Ela admite que, apesar da garota não gostar dos cursos de inglês e violão, resolveu insistir. “Um dia ela vai me agradecer. Faço tudo por amor”, desabafa

O que dizem os especialistas
Segundo a psicóloga Kátia Beal, especialista em educação e abordagem comportamental, os pais estão exigindo muito dos seus filhos porque há menos oportunidade de trabalho. Com pai e mãe trabalhando, hoje em dia pode parecer um pouco mais difícil educar os filhos. Conforme a estudiosa, colocar a criança para fazer mil atividades não é uma boa forma de educar. “Pode ser conveniente para os pais, mas com o passar do tempo a criança pode se tornar ansiosa e estressada, e pior, se ela não estiver fazendo o que tem vontade, pode acontecer que se torne um adulto frustrado.

A psicóloga não ignora a importância de estudar inglês, informática, fazer aulas de balé, de judô ou de futebol. “Mas não adianta querer que o filho faça natação, se ele prefere aula de violão. A criança tem que brincar. “É na brincadeira que ela se desenvolve se socializa, adquire habilidades sociais tão necessárias para a vida adulta”.

Segundo Kátia Beal, a atenção tem que ser redobrada com as crianças pequenas, pois elas precisam de um tempo para dormir, o que ajuda no desenvolvimento físico e intelectual. Beal destaca ainda que os pais precisam tomar cuidado com livros que prometem dicas milagrosas de como educar os filhos ”Não se nasce sabendo ser pai ou mãe. É uma coisa que se a p r e n d e n a prática”. Ela recomenda cuidado com as obras que propõe “soluções inovadoras”, ou para aqueles que “solucionam todos os problemas”, pois às vezes não correspondem às expectativas e só pioram a situação.

A dica da especialista é sempre buscar um profissional especializado que vai direto ao ponto que está precisando de orientação. “Se quiser colocar o filho para fazer algum curso, o melhor a se fazer é experimentar algumas aulas, pra ver se a criança tem afinidade com aquela modalidade e permitir que ela faça escolha, dentro dos limites”, ensina.

Para finalizar, Kátia Beal ressalta que o papel dos pais é mostrar as opções e ajudar os filhos nas suas escolhas pessoais e profissionais.

Por Eline Cruz - Especial para o Rio Verde Agora

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