Região centro-oeste vive amadurecimento no setor de startups

Segundo levantamento da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), a região centro-oeste possui 562 startups


O centro-oeste brasileiro, formado pelos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, começa a ver o amadurecimento de seu ecossistema de inovação. A região, conhecida pelo agronegócio, já vislumbra os seus primeiros casos de sucesso de startups.

Segundo levantamento da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), a região centro-oeste possui 562 startups espalhadas principalmente nas cidades de Brasília, Anápolis, Cuiabá, Campo Grande, Sinop, Goiânia e Jataí/Rio Verde. É um bom momento de crescimento dos estados, que buscam a formação de um ecossistema próprio desde 2013. 

“O ecossistema da região centro-oeste está passando por um amadurecimento interessante”, afirma Rafael Ribeiro, diretor-executivo da ABStartups e uma das pessoas por trás do estudo. “Agora é o momento as primeiras startups começam a ganhar tração e a validar modelos de negócios. Acho que os próximos unicórnios brasileiros podem vir de lá”.

Cenário
Atualmente, a principal economia dos três estados vem a partir do agronegócio — das plantações de milho e soja até a criação de gado. No entanto, ao contrário do que se imagina, a maior parte das startups da região centro-oeste não é voltada para tecnologias do agronegócio. Hoje, 22,7% das inovações são voltadas para a sala de aula.

Quem puxa esse movimento é a startup Estuda.com. Fundada em 2012, na cidade de Cuiabá, a empresa tem o objetivo de simplificar a aplicação de provas e exames. Para isso, a startup conta um sistema que ajuda professores na elaboração de questionários. E também dá feedbacks rápidos pra alunos, com correções de gabaritos quase instantâneas.

Hoje, sete anos depois de um início tímido na capital mato-grossense, a startup já conta com uma base de usuários com 2,5 milhões de alunos, 20 mil professores e 400 escolas.

“Acreditamos que nós ajudamos a alavancar esse número de edtechs na região”, afirma Vitor Freitas, fundador e CTO da Estuda.com. “Afinal, apesar do bom número de startups no ecossistema, só umas dez delas possuem escritório. De algum jeito, nos tornamos uma referência. Além disso, vale ressaltar que Mato Grosso não é só plantação. Temos cidades”.

Outras startups, enquanto isso, tentam surfar nas duas ondas de inovação da região. A Escola Agro, por exemplo, mistura inovações para a sala de aula e para o agronegócio. O objetivo da empresa é conscientizar instituições financeiras do papel do homem do campo na economia. Além das particularidades das finanças de um fazendeiro ou agricultor.

“A maioria dos bancos não entende que o crédito do agronegócio precisa funcionar de um jeito diferente”, afirma Ângelo Ozelame, fundador da startup, que hoje já está com sua solução em 400 agências em oito diferentes estados. “O que nós fazemos é promover uma educação para bancos por meio de ensino a distância. Ajuda todo mundo do ecossistema”.

Desdobramentos
Apesar do bom momento das edutechs na região centro-oeste do Brasil, especialistas acreditam que este é um número que deve mudar com o tempo. Primeiramente, as startups de agronegócio levam mais tempo para validar seus produtos e encontrar um mercado disponível pra testá-los. Além disso, é natural que a região foque no nicho do campo.

“Hoje, o ecossistema está começando a ser impulsionado pela presença de universidades na região, investidores vindos do agronegócio e hubs de inovação voltados para a agricultura e pecuária”, afirma Ribeiro, da ABStartups. “É natural que as primeiras startups, e que hoje chamam a atenção, sejam de serviços, como educação. Mas daqui dois ou três anos, a inovação em agricultura vai deslanchar e a região se tornará mais um polo no País”.

Empreendedores também destacam que, por ser uma região sem muitos investimentos e sem grandes eventos de inovação, é ainda mais urgente a necessidade de criar startups escaláveis. Ou seja: que possam levar serviços para outros lugares sem dificuldades. Afinal, 79% das startups locais ainda não receberam incentivos externos; ou investimentos (92%).

Flávio Estevam é um empreendedor que se tornou referência na região. Nos últimos cinco anos, ele fundos duas startups, em Mato Grosso, que viajam o País e o mundo. A primeira foi a Namoro Fake, na qual pessoas contratam um amigo ou namorada imaginário para elogiá-lo nas redes. Hoje, são 600 mil acessos mensais na plataforma. A outra empresa é a Dinneer: startup que reúne viajantes com pessoas que oferecem jantares em suas casas.

Esta última startup já está disponível em 520 cidades, com 4 mil anfitriões, em 49 países.

“O primeiro jantar da Dinneer aconteceu dois dias depois da criação da plataforma, em Londres”, afirma Estevam, fundador da empresa. “Mato Grosso do Sul e a região ainda tem dificuldade de se relacionar com outros ecossistemas. Há preconceito, há falta de acesso. Mas consegui driblar isso levando minha solução para vários lugares. Essa é a maravilha da tecnologia. Se criar algo bom, não importa de onde vem. Ela irá funcionar e viajar por aí”.

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