Nó logístico deve travar produção agrícola

Brasil não está preparado para o aumento da produção, que deve acontecer em 2013, diz especialista


O setor agropecuário conta com a continuidade dos atuais níveis de expansão dos grãos em 2013. No entanto, sabe que a infraestrutura logística do País não acompanha esse avanço. A preocupação, portanto, é de que o crescimento do agronegócio seja insustentável em curto prazo - como se teme conferir já neste ano.

"O ponto mais importante, em relação a 2013, é que teremos aumento de produção. Porém, não estamos preparados, quanto à logística, para o crescimento. Absolutamente, não", afirma Luiz Carlos Corrêa - o Caio -, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).

O representante acredita que a estrutura de escoamento da produção agrícola esteja próxima de um "grande nó" no Brasil. "O meu temor é que [a logística] trave este ano", declarou em entrevista ao DCI.

A colheita da soja tende a superar 80 milhões de toneladas nesta safra de 2012/2013, com aumento de cerca de 25% ante a temporada anterior. O grão se expandiu, principalmente, pela região centro-norte, onde se mapeia a nova fronteira agrícola brasileira.

"No ano passado, a produção já trombou com a logística. Mas a safra de soja descasou da pressão da oferta, com atraso, e a de cana chegou tarde", lembra Caio, analisando o porquê de o "grande nó" ter sido passado, possivelmente, para este ano, após um 2012 que já poderia ter travado a logística.

O Estado de Goiás é exemplo da pressão de oferta que está por vir. A federação agrícola local estima que a produção de grãos atinja, com alta de 2,6%, 19 milhões de toneladas. "A soja deve puxar a evolução da safra goiana", diz o presidente da entidade, José Mário Schreiner.

No planejamento para 2013, o representante inclui a implantação de um projeto de infraestrutura para o estado. A Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) participa da elaboração de um estudo, desenvolvido pela Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA), a respeito das condições logísticas da Região Centro-Oeste.

Os gargalos que impedem o escoamento da produção brasileira - como estradas em mau estado, portos saturados e poucas ferrovias - afetam diretamente as exportações, que são a prioridade do agronegócio brasileiro.

"Espera-se que até 2020 a classe média chinesa se amplie para 500 milhões de pessoas [hoje são 150 milhões]. Além disso, 300 milhões de chineses devem dobrar sua renda nesse período", destaca Schreiner, em relação ao principal destino da pauta de exportações do agronegócio.

Pecuária
Para Caio, da Abag, o custo da alimentação animal continuará subindo este ano, em função das commodities soja e milho, pressionadas pela demanda no mercado internacional. "A única saída factível para isso é o investimento em produtividade [na produção de carnes]", ele observa.

"A pecuária brasileira continua excepcional na aplicação de tecnologias e redução de custos", diz o representante, e mensura incremento produtivo de uma para três cabeças de gado por hectare na última década. Caio destaca o avanço da soja sobre pastagens: "já não se tem mais 200 milhões de hectares de pastos com baixa produtividade [como na década de 1990]".

Milho
Representantes e especialistas da agricultura apostam que haverá redução da segunda safra de milho no ano que vem, após a chamada "safrinha" ter crescido mais de 25% no ano passado, ocupando área maior do que 6,7 milhões de hectares. Segundo eles, os atrasos no plantio da soja provocariam recuo do cereal de inverno. Para Caio, no entanto, "há dúvida. O tamanho da segunda safra vai depender do verão e da logística, que pode não suportar mais grãos". Todavia, "o Brasil acertou a mão ao fazer a safrinha virar safrão", observa.

Cana-de-açúcar
Oriundo do mercado sucroalcooleiro, o presidente da Abag avalia que a busca pela retomada de investimentos - como enseja a nova presidente da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), Elizabeth Farina - "é a única orientação possível, neste momento, para o setor".

Caio observa que o açúcar e o álcool anidro destinado à exportação estão se equilibrando em preço no mercado internacional. "Voltamos à realidade dos mesmos patamares. No caso do etanol hidratado, o mercado também pode se equilibrar se o governo souber articular políticas públicas", analisa.

O antigo empresário do ramo não acredita que, sem a mão do Estado, as usinas prefiram produzir etanol - ainda que o governo tenha dado sinal de que reajustará a gasolina este ano.

Por fim: "Tenho uma ótima impressão sobre Elizabeth, que é uma profissional de formação acadêmica, mas com visão macroeconômica. E tenho esperança de que ela oriente institucionalmente o setor para a retomada de investimentos".

(Fonte: Bruno Cirillo - DCI)

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