Incerteza ronda safrinha de milho do Brasil por perdas na soja

Conforme o levantamento mais recente da Conab, a segunda safra em 2018/19 deve alcançar 63,7 milhões de toneladas, ou cerca de 70 por cento do total esperado


As perspectivas favoráveis para a segunda safra de milho do Brasil, a safrinha, começam a se turvar diante de incertezas quanto ao desenrolar climático, após a seca e o intenso calor castigarem a soja, ao passo que uma nova tributação em Mato Grosso enfurece produtores, com impacto maior previsto na semeadura de 2020.

Por ora, a avaliação entre especialistas e produtores ouvidos pela Reuters é de que a janela para o plantio do cereal permanece favorável, uma vez que a colheita de soja avança a passos largos --na segunda safra, o milho é plantado após a retirada da oleaginosa dos campos. Mas preocupações aparecem, com o clima ainda irregular em partes do país.

"Estamos pensando em dar uma alongada nos materiais para dar tempo de se recuperar (a condição climática)... Há risco de se reduzir a área (de milho), mas depende do clima", afirmou João Carlos Ragagnin, que cultiva 8,2 mil hectares em Goiás, o quarto maior Estado produtor de milho safrinha do Brasil.

O Brasil é o terceiro maior produtor de milho e o segundo maior exportador do cereal, tendo na safrinha o grosso da produção anual. Conforme o levantamento mais recente da Conab, a segunda safra em 2018/19 deve alcançar 63,7 milhões de toneladas, ou cerca de 70 por cento do total esperado.

"Tem gente diminuindo a área", disse Flávio Faedo, produtor de soja e milho na região de Rio Verde (GO).

Segundo ele, há quem destinará maior parcela de área que inicialmente seria destinada ao milho para outros tipos de culturas de rotação, como crotalária. Ele próprio disse que, após 2,2 mil hectares com soja, semeará em torno de 75 por cento disso com milho --o restante deve ser ocupado com capim braquiária.

Os comentários vão ao encontro do que o presidente da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), Antonio Chavaglia, disse na semana passada à Reuters, de que o plantio da segunda safra na região ainda está em aberto após o tempo adverso.

No sudeste de Mato Grosso, a preocupação é a mesma --o Estado é o maior produtor brasileiro de milho.

"Em uma normalidade, a plantadeira acompanha a colheitadeira, mas neste ano está truncado...", comentou Gilmar Provin, supervisor comercial da Cooaprima, cooperativa agropecuária de Primavera do Leste (MT), cujo quadro de quase 100 cooperados planta 120 mil hectares de soja e 83 mil de milho.

"Vai ter problema", frisou Provin na semana passada, durante trecho da expedição técnica Rally da Safra, organizado pela Agroconsult e acompanhado pela Reuters, entre os Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Ele lembrou que alguns agricultores estão "plantando no pó", em áreas secas.

"Esses problemas que tivemos na soja deixam o produtor mais receoso. Mas ainda temos uma boa janela para o milho. O que vemos é que os produtores atrasaram a negociação de insumos para a safrinha", afirmou Adriano Gomes, analista da AgRural.

Maior exportador mundial de soja, o Brasil deu início ao plantio em setembro do ano passado com condições extremamente favoráveis, levando o mercado a apostar em uma safra recorde bem superior a 120 milhões de toneladas. Mas a estiagem e as altas temperaturas a partir de dezembro fizeram as previsões serem cortadas, com a Aprosoja Brasil prevendo uma quebra de 16 milhões de toneladas.

"A melhor janela (de plantio) vai até o final de fevereiro. Se o clima não ajudar, se não for favorável... pode haver alguma revisão. Acredito que essa preocupação exista, sim. Por causa da quebra na soja, (o produtor) vai estar de olho, porque a safrinha é mais arriscada", disse a analista Ana Luiza Lodi, da INTL FCStone, lembrando que o milho safrinha se desenvolve em um período de sazonal diminuição de chuvas.
 

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