A economia precisa se basear na racionalidade ambiental

Opinião é do economista Marcus Eduardo de Oliveira


Dificilmente iremos ingressar num novo tempo de prosperidade saudável e economicamente desejável com possibilidades de bem-estar estendida a todos se não mudarmos o quanto antes o foco e o direcionamento da atividade econômica baseando-a em uma racionalidade ambiental. Quem diz isso é o economista Marcus Eduardo de Oliveira.

Crítico severo em relação ao comportamento da macroeconomia tradicional que enaltece o mercado e as mercadorias, fazendo vistas grossas à questão ambiental, Marcus de Oliveira diz que “o modelo econômico praticado em larga escala, pelo menos nos últimos 110 anos, já se esgotou e chegou o momento da reversão, até mesmo porque, até hoje, esse modelo gerou uma distribuição muito desigual dos ganhos”.

Os números da desigualdade socioeconômica parecem mesmo comprovar o argumento do economista. Em relação a isso, Oliveira ponderou que “atualmente, apenas 20% da população mais rica do mundo utilizam ¾ dos recursos naturais, numa situação em quase metade da população (3 bilhões) ou está diretamente na pobreza ou habita nos limites dessa. Ora, isso é fruto de um modelo que priorizou o crescimento de forma exagerada, beneficiando poucos, sem o devido controle e cuidado para com a questão ambiental, em detrimento daqueles que mais necessitam. Resultado? Hoje temos 1 bilhão de estômagos vazios em um ambiente caótico, fruto da degradação praticada pela voracidade desse crescimento econômico. Por isso, é urgentemente necessário se pensar numa nova etapa da economia”.

Para Marcus de Oliveira “uma nova economia centrada em uma base de racionalidade ambiental deve dar conta também, além do óbvio que é salvaguardar o espaço natural, de ser inclusiva, criando mecanismos para acabar com a vergonha de ainda termos esses um bilhão de estômagos vazios vagando pelo mundo”.

Essa nova economia centrada na racionalidade ambiental, com baixo carbono, deve passar pela geração e expansão dos chamados empregos verdes (green Jobs), potencializando a mão de obra em tarefas que zelam pela questão ambiental. No caso específico do Brasil, os últimos dados apontam para a existência de 3 milhões de pessoas empregadas em atividades de empregos verdes.

“O caminho de qualquer economia que prioriza e faz de tudo para atender aos ditames do mercado que clama por mais produção e consumo, atingindo picos de crescimento inimagináveis é previamente conhecido: destruição ambiental, desmatamento, poluição, queimadas, escassez ecológica, extinção das espécies, emissão de gases de efeito estufa, entre outros”, ponderou o economista.

Autor de vários artigos sobre a relação da atividade econômica com a natureza, Marcus Eduardo de Oliveira ressaltou a importância da perspectiva ambiental no contexto econômico dizendo que “somos levados a pontuar um fato inexorável: a economia está ´dentro´ de algo muito maior chamado meio ambiente. Não se pode pensar a economia fora disso. Sem sistema ecológico não há economia. Assim, é de fundamental importância a racionalidade ambiental nos entornos da atividade econômica”.

Toda essa questão envolvendo a necessidade de se atingir crescimento econômico versus a capacidade da natureza em oferecer recursos naturais tem se acirrado nos últimos tempos por conta das mais diversificadas fases de desequilíbrio ambiental verificado em quase todas as partes do mundo.

Oliveira, por fim, comentou que “crescimento é a expansão das bases físicas da economia (fazer mais), o que significa aumentar a pressão sobre os recursos naturais, ao passo que desenvolvimento é assegurar melhorias nas condições de vida (viver melhor). O primeiro conceito se prende ao lado quantitativo (mais); já o segundo se refere ao aspecto qualitativo (melhor). Pensar uma nova etapa da vida econômica significa pensar antes na vida ecológica salvando o planeta para o bem de todos nós”, concluiu o economista.

Ricardo Pereira
(Diário Oeste)

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