A cada 5 casos de Covid-19 em Goiás, um é de Rio Verde

Com 2.065 notificações registradas até a noite de terça-feira, a cidade só fica atrás de Goiânia em número absoluto, mas é disparada a primeira na taxa de infectados por 100 mil habitantes


Um a cada cinco casos confirmados de Covid-19 em Goiás é de Rio Verde. O aumento expressivo de notificações ocorre a partir de testes em ao menos 15 mil funcionários de 7 indústrias da cidade no fim de semana. O número de pessoas contaminadas com o novo coronavírus (Sars-CoV-2) saltou de 283 na sexta-feira (5) para 2.065 no começo da noite desta terça-feira (9) e deve subir mais. Como comparação, Goiânia, que tem uma população 6,5 vezes maior que o município do Sudoeste goiano, registrou até o momento 2.922 pessoas infectadas. 

Outro dado que mostra a proporção que a Covid-19 assumiu em Rio Verde após a descoberta feita pela testagem em massa, é a taxa de casos por 100 mil habitantes, que em Goiás está em torno de 130 e em Goiânia chega a 192,7. Em Rio Verde, esta taxa saltou para 876,3 até a última atualização do boletim epidemiológico municipal. 

Goiás já registra mais de 9,1 mil casos, apesar de no boletim estadual constar 6,7 mil. Isso porque além de o Estado ainda não estar computando os casos de Rio Verde, existe uma defasagem que já vem de semanas entre os dados das prefeituras – mais atualizados - e os do governo estadual. A reportagem chegou ao número maior a partir de consulta ao boletim estadual do dia 9 e aos boletins municipais mais recentes das cidades com mais de 100 casos confirmados. Neste cenário, Rio Verde responde por 22,5% das notificações. 

Nesta segunda-feira (8), prefeito Paulo do Vale (DEM) afirmou que pode decretar lockdown ainda nesta semana, caso o índice de isolamento social não atinja 55% nos próximos dias. Levantamento feito pelo POPULAR mostra que a situação da cidade não é confortável neste quesito, ficando entre 35% e 36,5% na média semanal considerando apenas os dias úteis. 

Entretanto, depois que a cidade apresentou o salto no número de casos, o índice de isolamento teve pela primeira vez um porcentual acima de 40% em um dia útil desde que os governos estadual e municipal flexibilizaram as medidas restritivas de atividades comerciais, a partir de 19 de abril. 

O último decreto municipal publicado pela prefeitura, no sábado (6), suspendeu as atividades comerciais e serviços, com exceções para as apontadas como essenciais. As medidas começaram a valer nesta segunda-feira e a previsão é de que sigam até 21 de junho. 

A presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde em Goiás (Cosems-GO), Verônica Savatin, elogiou a medida adotada em Rio Verde e diz que outras prefeituras já estudam a mesma iniciativa, inclusive a da qual ela faz parte como titular municipal da Saúde, em Chapadão do Céu. “Já estamos sabendo de prefeituras que estão procurando as indústrias de suas cidades para negociar a aplicação dos testes”, disse. 

O epidemiologista e professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Goiás (UFG), João Bosco Siqueira, diz que a ação em Rio Verde é a “tecnicamente mais correta” para conter o avanço da Covid-19: aplicação em massa do exame rt-PCR, que detecta o vírus, e o isolamento das pessoas infectadas e dos contatos delas. “Se não identificassem estas pessoas agora, com certeza estariam transmitindo o vírus.” 

Tanto ele como Verônica acreditam que se o mesmo for feito em outras cidades o resultado - muitas pessoas dando positivo no teste - seria semelhante.

4 perguntas para Eduardo Ribeiro 
Secretário municipal de Saúde de Rio Verde fala sobre aumento de casos de Covid-19 na cidade

1 - A que se deve tamanha circulação do vírus em Rio Verde? 
Nós atribuímos esse aumento exponencial à checagem. Hoje nós entendemos que a melhor forma de combater esse vírus é a testagem e o isolamento social. Aqui em Rio Verde está sendo realizada um dos maiores estudos epidemiológicos do Brasil, em termos de proporção, para nós identificarmos onde está o vírus. 

Esse número avolumado é em virtude dos testes realizados nas grandes empresas daqui. Eu creio que cidades acometidas pelo novo coronavírus e com um parque industrial relativamente grande, se testarem esses funcionários encontrarão muitos casos positivos de pacientes assintomáticos. É o que está acontecendo aqui. Nós temos, por enquanto, alto número de casos relatados pelos exames, mas em percentual um nível de hospitalização regular, que está abaixo do que era esperado para uma contaminação dessas. 

2 - Rio Verde, no início da pandemia, chegou a ser uma cidade modelo no controle da taxa de infecção. Essa alta se deve à característica das indústrias da região? Pois no Sul do País e em outras partes do mundo também houve problemas com frigoríficos. 
As indústrias onde existe um confinamento de pessoas, como são as indústrias de gêneros alimentícios, onde elas trabalham em locais hermeticamente fechados e refrigerados, você percebe que nessas indústrias existe uma probabilidade de contaminação muito maior que nas outras. Esse foi um dos fatores que elevou drasticamente o número de contaminados. Mas eu creio que o grande vilão de toda essa história está justamente na não adesão da população ao isolamento social feito insistentemente por todos nós do serviço público. 


A população está sendo contaminada pelos mais jovens. Os mais velhos estão retraídos, mas a população mais jovem está sem freio, fazendo festinhas e participando de jogos de futebol. 

3 - Como está o controle dos contaminados? 
A testagem nos permite chegarmos ao paciente antes que o paciente chegue até nós. Aquela pessoa contaminada pode passar desapercebida, ou com uma gripezinha, como dizem algumas autoridades. Com a testagem, antes da pessoa desenvolver qualquer sintoma, nós já encontramos o paciente, fazemos o isolamento de todos os seus contatos e as pessoas de sua convivência entram nos monitorados. Aí está o pulo do gato. 

4 - Há risco de contaminação dos alimentos produzidos nessas indústrias? 
Não existe esse risco. Todas as mercadorias passam por desinfecção. Se fosse assim, imagina o que seria São Paulo, que tem a maior contaminação e é o maior polo de fabricação e distribuição de alimentos para o Brasil.

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